Reler diários é um ato masoquista.
Confrontar-se com memórias tão espinhosas.
Tanto sofrimento. Tanto contraste.
Que honra me ver tão diferente. Tão imune.
Nunca pensei que eu e a solidão pudéssemos nos dar tão bem.
Tantos nós desatados. Tantos novos laços formados.
Talvez o Universo tenha, finalmente, atendido o meu pedido: livrai-me do mal.
Mas o que sobrou?
Qual o espólio que essa batalha maldita comigo mesmo deixou?
Uma muralha cravejada de tormentos. Alcançado pelo fúria implacável das consequências.
Qual o preço a se pagar para ter o privilégio de pertencer a si mesmo?
De não sentir o medo de sentir. De não ter medo de dormir.
Tantas madrugadas buscando nos excessos aquele pouco que tanto me faltava.
Mas aquela mistura de lágrimas e cinzas finalmente ganhou vida.
Aprendi a conviver com a fera de olhos vermelhos.
Com retalhos, um homem com senso de vencer constrói sua própria bandeira.
Carregá-la-ei com honra, pois é o que me fez forte.
Aprendi a acariciar mais as minhas cicatrizes do que a face daqueles que cuspiram no meu altruísmo.
Se existe algo que motive mais o ser humano do que o senso próprio de justiça, desconheço.
A verdade sempre prevalecerá.
Sempre.
Eu vou vencer.
(Foto: Joe Rosenthal/National Archives)