terça-feira, 9 de maio de 2023

Sobre baús e reencontros...

 


Reler diários é um ato masoquista.
Confrontar-se com memórias tão espinhosas.
Tanto sofrimento. Tanto contraste.
Que honra me ver tão diferente. Tão imune.
Nunca pensei que eu e a solidão pudéssemos nos dar tão bem.
Tantos nós desatados. Tantos novos laços formados.
Talvez o Universo tenha, finalmente, atendido o meu pedido: livrai-me do mal.

Mas o que sobrou?
Qual o espólio que essa batalha maldita comigo mesmo deixou?
Uma muralha cravejada de tormentos. Alcançado pelo fúria implacável das consequências.
Qual o preço a se pagar para ter o privilégio de pertencer a si mesmo?
De não sentir o medo de sentir. De não ter medo de dormir.
Tantas madrugadas buscando nos excessos aquele pouco que tanto me faltava.
Mas aquela mistura de lágrimas e cinzas finalmente ganhou vida.

Aprendi a conviver com a fera de olhos vermelhos. 
Com retalhos, um homem com senso de vencer constrói sua própria bandeira.
Carregá-la-ei com honra, pois é o que me fez forte.
Aprendi a acariciar mais as minhas cicatrizes do que a face daqueles que cuspiram no meu altruísmo.
Se existe algo que motive mais o ser humano do que o senso próprio de justiça, desconheço.
A verdade sempre prevalecerá.
Sempre.

Eu vou vencer.


(Foto: Joe Rosenthal/National Archives)

quinta-feira, 5 de março de 2015

Relatividades.





Minha imensidão é preenchida por grandes vazios.
Vazios galácticos, astronomicamente incalculáveis, absurdamente inocentes dentro da minha noção de tempo e espaço.
Na tentativa de efetivar a teoria da tentativa e erro, vou tentando completar o limbo da minha alma com vazios ainda maiores: Pessoas vazias, sentimentos vazios, objetivos vazios, vontades vazias.
Nessa matemática demente eu vou destruindo minha capacidade de sonhar.
Os pesadelos se tornaram a realidade que eu quis evitar a qualquer custo.
E nessa odisséia viciosa de alimentar meus medos disfarçados de coragem, criei um leão indomável.
Não existem mais jaulas ou força humana que consigam conter a voz silenciosa da minha consciência atormentada.
Com medo da luz da verdade, me tornei um completo covarde.
E tentando me defender dos meus próprios atos, acabei esfacelando minha própria essência.
Sou um menino de alma desfigurada, tentando soltar as amarras que me prender ao fundo desse oceano de sombras e subir à superfície para respirar aquilo que tenho direito (embora, no fundo do inconsciente, não acredite ser merecedor): Felicidade.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

As chagas de ser o que se é.



Minha força advém daquilo que não posso ver, entender ou sentir.
Apenas sou forte, de forma inexplicável.
Ou eu posso ser apenas sorte, não sei.
A vida nem sempre colocou à minha frente o caminho de rosas que eu gostaria de percorrer. Hoje mesmo, eu pisei em um espinho... uma ponta de repulsa deixada no chão por alguém que caminhava na minha frente, depois de saber das coisas que se passavam no meu coração.
Meus olhos não souberam respeitar minha vontade de permanecer inerte e indiferente àquela ferida recém aberta em meu calcanhar, e irromperam numa mistura de lágrimas e ódio.
Eu procurei, desesperadamente, retirar o infame ferrão que adentrou na minha pele. Mas o ato só fez com que ele afundasse ainda mais carne e alma adentro. Eu, que equilibro sentimentos como uma criança equilibra um monte de pratos empilhados, não soube, mais uma vez, lidar com algo tão simples, mas ao mesmo tempo tão forte: um singelo silêncio.
Manco e raivoso, uma trilha de sangue vai ficando pelo caminho conforme meus passos teimosos vão se refazendo.
Cada vez que tento firmar o pé no chão é um grito interno sufocado, como golpes de açoite na minha alma que vê na dor, uma penitência pelo pecado de querer viver.
Enquanto eu tentava entender tudo aquilo, entre lágrimas e sangue, uma sensação suave e gentil acarinhou as faces do meu rosto. Um leve calor que se sente quando alguém aproxima o rosto próximo ao seu. A dor foi atenuando aos poucos e pude finalmente compreender que, por mais que minha caminhada fosse "fisicamente" solitária, eu não estava abandonado. Algo (ou alguém)  estava zelando pela minha guarda. O nome que eu daria a esta força maior que senti é irrelevante. Alguns chamam de Deus, Cosmos, bons espíritos, Orixás... A mim, não importa.
Naquele instante, juntei os resquícios de forças que ainda me restavam, me coloquei de pé e segui em frente.
Com ou sem dor, o caminho é longo e não se pode parar. Cabe a nós mesmos dar ouvidos a nossa fé, e crer que o próximo alvorecer será aquele em que tudo irá ficar bem.
Se não ficar, não há por quê ficar aflito.
Enquanto a vida pulsar no peito, haverá uma nova oportunidade. 
Uma nova chance.
Um novo renascer.

domingo, 10 de agosto de 2014


Sobre trilhas sinuosas e caminhos repetidos.
Nas linhas duras do meu rosto, uma lágrima desavergonhada deixou um rastro de tristeza.
Ela queria atingir o coração, mas eu não deixei.
Recolhi a gota amarga com o nó do meu dedo indicador, impedindo o seu trajeto indigno.
Enquanto isso, continuei meu caminhar sobre a trilha de pedras soltas.
Desequilibrio.
Desalinho.
Desatino.
Destino.
Olhos vendados pra não ver o mundo.
Não quero acreditar nas coisas que ouço.
Meu andar é lento, cauteloso, automático.
Somente eu e a confiança nos meus pés descalços, feridos.
Meu rancor e meu sangue deixam pegadas, que não duram até a próxima chuva.
A natureza vai lavando minha trajetória, e me ensinando a mais valiosa lição: não olhe para trás.
Sigo em frente, retilíneo.
Se tropeço, levanto. Recolho o que for essencial e continuo minha jornada.
Se perdi algo, que fique no caminho. Que siga seu próprio caminho.
Quanto menor é o peso nos ombros, maior é a leveza da alma.
E de pessoas e sentimentos inúteis, estou esvaziando os bolsos e o coração.

domingo, 13 de abril de 2014

1ano.
12 meses de angústia e lamentação.
52 semanas de uma tortura chamada 'viver'.
365 dias de desgraça.
8760 horas de uma alma se esvaindo em sangue e dor.
525600 minutos de solidão interminável.
31.536.000 segundos de um pensamento incessante: O que vai ser de mim?


Uma briga de leões se instalou dentro de mim. Do que me adianta desistir?
Não sou nada perto deles. Só assisto o duelo. Nem sequer posso torcer por algum deles. O prêmio dos dois é a minha cabeça.
Meus sonhos são de outro mundo. Aliás, que mundo é esse? Melhor dizendo: será que eu sou deste mundo?
Mentalizo tantos desejos, que nem sei qual a ordem certa deles. Nada me fará parar, mas de que adianta andar, se não se sabe pra onde vai?
Cada tropeço arranca um pedaço de mim que fica pelo caminho. Não sei mais o que sobrou, se é que sobrou algo. Minha janela mostra um lindo horizonte, mas eu sei que o horizonte não tem fim.
Já não cabe mais ar nos meus pulmões e nem amor no meu peito. O que eu sinto não tem nome, mas eu sempre tento dizer que é amor. O que ficará no espaço vazio entre ser feliz e sobreviver?

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Eu quero viver!


Todas as noites. Sem exceção.
Imagino seus braços envolvendo meu corpo e percebo que perdi o calor mais intenso da vida.
Me perco no horizonte dos teus olhos, e não me conformo em saber que deixei a paisagem mais linda se esvair entre meus desejos.
Mas o pior disso tudo é me dar conta que joguei o meu sonho mais valioso pela janela.
Cada suspiro de tristeza é uma facada na minha alma, que sangra incessantemente.
Alguém me acorde desse pesadelo.
Eu imploro...

terça-feira, 9 de julho de 2013

Retalhos



Exatamente hoje, 3 meses se passaram.
Há exatamente 90 dias atrás, fui colocado diante de um leão. Um leão de cor negra, olhos vermelhos como o fogo, sedento de sonhos. Me disse ele: "Tua vida acaba aqui. A partir de hoje, te resignarás a aguardar a tua hora. Teus sonhos levarei comigo, pois não tens mais direitos sobre eles. Teus atos te trouxeram até aqui, e eles serão teu ponto final."
Uma criança, com medo, sentindo o frio mais intenso do universo atingir em cheio sua alma pequena e azul.
Sentado naquela cadeira, me senti o ser vivo mais vulnerável do mundo. Bastaria um toque para que eu me desmanchasse em milhares de pedaços. Senti abraços e palavras de conforto, mas eu estava desprovido de sentidos. O pavor turvou qualquer noção de tempo e espaço que ainda restava no meu pensamento consciente. Enquanto isso, minha tristeza liquefeita escorria sobre minha face, na tentativa de despressurizar a tensão que se instalou no meu corpo. Meu espírito sangrava vigorosamente, diante do imenso buraco negro que se abriu debaixo dos meus pés e fui obrigado a assistir meus sonhos serem destroçados por aquele leão feroz e impiedoso que sentenciou minha vida para sempre.
Posso dizer que, ironicamente, morri no mesmo dia do meu nascimento. Minhas cinzas, misturadas com minhas lágrimas, deram origem a um ser desconhecido, que aos poucos estou aprendendo a reconhecer.
Lentamente, minha noção de realidade foi se ajustando à escuridão instaurada. Revirei minha memória para encontrar um culpado, mas somente a minha imagem vinha à tona. Mais um fracasso para minha infindável coleção. De repente, ouvi a voz do mundo me chamando lá fora interrompendo meu devaneio, e percebi que a mudança havia ocorrido somente dentro de mim. No mundo externo, as coisas continuavam exatamente iguais. Eu precisava agir como de costume, mas minha alma desfigurada precisava de um disfarce. Peguei a melhor máscara da estante, respirei fundo e voltei à superfície para continuar encenando a peça da minha vida. Mas posso dizer que sou um péssimo ator.
Cá estou. Com pedaços de sonhos nas mãos. Tentando costurar cada pedacinho para preservá-los em meu pensamento. Vou riscando cada dia em uma parede, como um prisioneiro na cela, aguardando o dia em que será libertado e pedindo a Deus que a chama da esperança jamais se apague dentro de mim.