terça-feira, 11 de novembro de 2014

As chagas de ser o que se é.



Minha força advém daquilo que não posso ver, entender ou sentir.
Apenas sou forte, de forma inexplicável.
Ou eu posso ser apenas sorte, não sei.
A vida nem sempre colocou à minha frente o caminho de rosas que eu gostaria de percorrer. Hoje mesmo, eu pisei em um espinho... uma ponta de repulsa deixada no chão por alguém que caminhava na minha frente, depois de saber das coisas que se passavam no meu coração.
Meus olhos não souberam respeitar minha vontade de permanecer inerte e indiferente àquela ferida recém aberta em meu calcanhar, e irromperam numa mistura de lágrimas e ódio.
Eu procurei, desesperadamente, retirar o infame ferrão que adentrou na minha pele. Mas o ato só fez com que ele afundasse ainda mais carne e alma adentro. Eu, que equilibro sentimentos como uma criança equilibra um monte de pratos empilhados, não soube, mais uma vez, lidar com algo tão simples, mas ao mesmo tempo tão forte: um singelo silêncio.
Manco e raivoso, uma trilha de sangue vai ficando pelo caminho conforme meus passos teimosos vão se refazendo.
Cada vez que tento firmar o pé no chão é um grito interno sufocado, como golpes de açoite na minha alma que vê na dor, uma penitência pelo pecado de querer viver.
Enquanto eu tentava entender tudo aquilo, entre lágrimas e sangue, uma sensação suave e gentil acarinhou as faces do meu rosto. Um leve calor que se sente quando alguém aproxima o rosto próximo ao seu. A dor foi atenuando aos poucos e pude finalmente compreender que, por mais que minha caminhada fosse "fisicamente" solitária, eu não estava abandonado. Algo (ou alguém)  estava zelando pela minha guarda. O nome que eu daria a esta força maior que senti é irrelevante. Alguns chamam de Deus, Cosmos, bons espíritos, Orixás... A mim, não importa.
Naquele instante, juntei os resquícios de forças que ainda me restavam, me coloquei de pé e segui em frente.
Com ou sem dor, o caminho é longo e não se pode parar. Cabe a nós mesmos dar ouvidos a nossa fé, e crer que o próximo alvorecer será aquele em que tudo irá ficar bem.
Se não ficar, não há por quê ficar aflito.
Enquanto a vida pulsar no peito, haverá uma nova oportunidade. 
Uma nova chance.
Um novo renascer.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Senti uma leveza inovadora nesse, mas sem perder a intensidade e veracidade que são as principais características. Gostei muito!!!

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